terça-feira, 29 de junho de 2010

Em busca de uma nova chance

Há uma cena no começo de "Em busca de uma nova chance" que é a melhor do filme. No banco traseiro de um carro, ao centro, Pierce Brosnan, com seus olhos azuis em desespero contido, olha ora para a esposa à direita (Susan Sarandon), ora para o filho à esquerda. Eles são o que sobrou de uma família. Estão voltando do enterro do filho mais velho, Bennett (Aaron Johnson), morto em um acidente de carro estúpido. Ele estava parado no meio da rua, criando coragem para declarar seu amor por Rose (a adorável Carey Mulligan, de "Educação"), com quem havia dormido pela primeira vez. O plano dura alguns minutos, mas nele vemos a figura do Pai, tentando imaginar o que vai ser do futuro da sua família, o distanciamento alienado da Mãe e a indiferença (induzida por drogas) do irmão mais novo.

"Em busca de uma nova chance" é daqueles filmes que poderiam ir direto para o Supercine, no sábado à noite, não fosse pela qualidade do elenco. Este é um filme assumidamente dramático, daqueles que lembram exemplos dos anos 80 como "Laços de Ternura" ("Tears of Endearment", 1983) ou, mais especificamente, "Gente como a Gente" ("Ordinary People", 1980), dirigido por Robert Redford. Deste último, a roteirista e diretora Shana Feste se apropriou de vários elementos, como a morte do filho mais velho, herói na escola e atleta, a frieza da mãe (vivida por Mary Tyler Moore), a tentativa do pai (Donald Sutherland) de manter a família unida e os problemas do filho mais novo (Timothy Hutton), tendo que lidar com o fato de sempre ter ficado em segundo lugar na atenção de todos.

A estes dados, todos presentes em "Em busca de uma nova chance", a roteirista adicionou o fato de que a namorada de Bennett, Rose, aparece nesta família em ruínas e anuncia uma surpresa: ela está grávida de Bennett. Sozinha no mundo (a mãe tem problemas mentais e vive em instituições), Rose pede para ficar com eles até o nascimento do bebê, que ela não quer abortar. Allen (Pierce Brosnan, muito bem como sempre) vê em Rose uma chance de superar a morte do filho e tocar a vida para frente, o que é visto por Grace (Susan Sarandon, idem) como uma afronta à memória de Bennett. Ryan (Johnny Simmons), o filho mais novo, começa a frequentar um grupo de auto-ajuda e conhece Ashley (Zöe Kravitz), uma garota com mais problemas do que aparenta.

Sim, o filme é cheio de clichês dramáticos, mas é bom ver um drama humano de vez em quando na tela do cinema. A diretora leva o filme com delicadeza e não abusa n0 "açúcar". Carey Mulligan, que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu papel em "Educação", faz aqui um trabalho bem diferente, mas igualmente bom. De cabelos curtos e mais vulnerável, ela é a parte mais "saudável" de toda a família, tentando criar uma imagem do quase desconhecido pai de seu filho. Brosnan é um dos produtores, tendo criado uma boa carreira pós 007.


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