segunda-feira, 1 de março de 2010

Educação

Ela está parada no ponto de ônibus, debaixo da chuva, segurando um violoncelo. Ele pára seu carro esporte e, extremamente educado, lhe diz que ela seria louca de aceitar a carona de um estranho, mas deveria ao menos proteger seu violoncelo. Ela é Jenny (Carey Mulligan), 16 anos; ele é David (Peter Sarsgaard), 35 anos. O filme é “Educação”, dirigido pela dinamarquesa Lone Scherfig, e pode ser classificado como uma “comédia romântica”, sob o risco de ser colocado na mesma prateleira, na locadora, ao lado de bobagens estreladas por Cameron Dias e Julia Roberts. Felizmente, está longe disso. O roteiro, baseado nas memórias da jornalista Lynn Barber, foi escrito por Nick Hornby, autor dos ótimos “Alta Fidelidade” e “Um Grande Garoto”.

Jenny é uma estudante exemplar que está se preparando para entrar na Universidade de Oxford, e atrai a atenção deste homem com o dobro da sua idade. David tem charme de sobra, e consegue convencer os pais dela que é confiável, levando-a a concertos, jantares e leilões de arte. Estamos no começo nos anos 60, antes da revolução cultural e sexual que revirou o mundo no final da década, de modo que Jenny ainda é pouco mais que uma criança. No entanto, ela demonstra maturidade e bom senso além de seus anos, e dá gosto ver um filme que confia na inteligência não só de seus personagens, mas de seus espectadores. O que David quer com Jenny? Sexo? Isso seria simplificar demais a relação entre os dois. Jenny, claro, está deslumbrada com a oportunidade de freqüentar círculos inéditos para sua idade e ser tratada como uma adulta. De volta, David compartilha do bom gosto e classe da garota. Interessante também notar como, para os pais de Jenny, a chance dela talvez ter encontrado um “bom partido” seja tão importante quanto entrar em Oxford. Mas será que David não é bom demais para ser verdade?

Todo elenco está muito bem, em particular Alfred Molina como o pai de Jenny, mas é Carey Mulligan quem leva o filme com charme e graça. Sua interpretação recebeu muitos elogios e críticas, além de uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz de 2010. Ela tem sido comparada a Audrey Hepburn e está cotada para a refilmagem do musical “My Fair Lady”. Scherfig, que participou do movimento “Dogma” do cinema dinamarquês, dirige com leveza e dignidade. Seria fácil transformar esta história entre um homem mais velho e uma garota mais nova em um dramalhão ou em algo escandaloso. Mas, repito, é um filme de rara inteligência, em que temas como sexualidade, o papel da mulher (e do homem) e a importância da educação formal e informal são levantados e discutidos com seriedade. “Educação” também está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.

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