domingo, 24 de julho de 2011

Que mais posso querer

É ela quem dá o primeiro passo. Anna (Alba Rohrwacher) trabalha em uma corretora de seguros e mora com Alessio (Giuseppe Battiston). Aparentemente eles não são casados, mas estão juntos tempo o suficiente para conversarem sobre ter filhos. A irmã de Anna acabou de ter um bebê e Alessio, vendo Anna com a criança, pergunta se ela não gostaria de ter um também. Ela lhe diz que vai parar de tomar a pílula. Ao invés disso, ela envia um SMS para Domenico, um homem casado que ela conheceu quando este prestou um serviço de buffet na empresa dela. E é desta forma que eles começam um tórrido caso extra-conjugal.

"Que mais posso querer" mostra como um caso pode servir, a princípio, como uma válvula de escape não só para as pressões do cotidiano mas da própria realidade. É curioso como o diretor Silvio Soldini mostra a inversão de papéis da sociedade contemporânea. Não só é Anna quem dá início ao caso mas, quando ela deixa de ligar no dia seguinte, é Domenico quem fica chateado. Ele trabalha com um serviço de buffet, tem uma filha de cinco anos e um bebê pequeno. A relação com a esposa é atrapalhada pelas obrigações do dia-a-dia como pagar contas e cuidar das crianças. Já Anna tem em Alessio um companheiro dedicado mas cego aos desejos da esposa. O pobre coitado acha que basta amar e tratar bem a mulher que está tudo certo. Ele vive de bom humor, gosta de livros e filmes e está sempre consertando alguma coisa na casa. Anna e Domenico, ao procurarem algo fora do lar, estão "errados"? Claro que sim, mas não é exatamente por isso que um caso é atraente?

Soldini mostra, passo a passo, como ter um caso requer planejamento dos envolvidos. É necessário arrumar um tempo livre em comum (Domenico faz aulas de mergulho às quartas à noite e Anna diz que precisa fazer hora extra). É necessário arrumar um lugar. É preciso se encontrar, ir até o motel, apresentar os documentos, pagar para entrar e, finalmente, até tirar as roupas se torna um empecilho, na pressa criada pelo desejo e pela pressão do relógio ("são 55 euros por quatro horas", diz o atendente do motel). O sexo, quando finalmente acontece, é rápido e intenso. E agora? Ato consumado, como lidar com a situação dali em diante? Como não confundir o prazer sexual e a idealização com o novo parceiro com amor? Um caso é como um mundo à parte, uma fantasia infantil criada por duas pessoas que brincam que amar é simples, não envolvendo obrigações, cobranças ou preocupações com dinheiro para honrar no final do mês. Claro que a relação está fadada a terminar no momento em que a realidade abrir brechas neste mundo idealizado.

"Que mais posso querer" não apresenta nada de novo em termos de filmes sobre adultério. Mas trata do assunto com honestidade e realismo. Anna e Domenico não são interpretados por Brad Pitt e Jennifer Aniston, mas por atores comuns. A força do filme está no fato que de são homens e mulheres comuns, mas incapazes de lidar com as pressões da vida adulta. Em cartaz no Topázio Cinemas.


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