sábado, 17 de julho de 2010

2º Dia - III Festival Paulínia de Cinema

Sexta-feira, 16 de julho, começou a fase competitiva do III Festival Paulínia de Cinema. Foram apresentados dois curtas metragens (um regional e outro nacional) e dois longa metragens (documentário e ficção).
O curta regional da noite foi "Só não tem quem não quer", de Hidalgo Romero. Para quem é da região, foi interessante ver o bairro de Barão Geraldo, em Campinas, retratato na tela gigante do Theatro Municipal de Paulínia. Romero participa de um grupo de produção audiovisual chamado "Laboratório Cisco", interessante proposta de produção de filmes da cidade de Campinas. "Só não tem quem não quer" trata de um dia na vida de Anderson, um homem comum que, constantemente bombardeado por peças publicitárias e tentado pelos produtos que vê nas vitrines dos shoppings, acaba perdendo o controle. A produção é bem cuidada, com boa fotografia e edição. O final em aberto deixa um pouco a desejar.

Já o curta nacional apresentado foi uma pequena obra-prima chamada "Tempestade". Dirigido por César Cabral, o curta foi produzido usando a técnica de animação em "stop motion", ou animação de bonecos. Cabral estava presente ao festival e disse que o cronograma foi apertado, com o filme sendo feito em apenas quatro meses. A história, sem diálogos, mostra a luta de um marinheiro contra um mar revolto, tentando levar seu pequeno barco até onde está sua amada. A fotografia é cheia de sombras fortes, e o filme tem uma grande carga emocional auxiliada pelo uso do Concerto Número 1 de Philip Glass, que sabe como ninguém criar um clima de obsessão. César Cabral é também o diretor do premiado "Dossiê Rê Bordosa", falso documentário em stop motion sobre a polêmica personagem de Angeli. "Tempestade" poderia, facilmente, ganhar um Oscar de Melhor Curta Metragem Animado.


"Leite e Ferro" é um documentário de Cláudia Priscilla, que mostra a vida de mães presidiárias do CAHMP, Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa. As mães tem direito a ficar com seus bebês até que completem quatro meses, para amamentá-los. A câmera na mão acompanha estas mulheres que, de bebê quase sempre no colo, conversam sobre os mais diferentes assuntos.

Suas histórias geralmente seguem uma sequência que começa com abandono na infância, passa por fome, o início de pequenos furtos e uma escalada no mundo do crime, com uso e tráfico de drogas pesadas. Dentro da prisão, o "vício" é outro: a Bíblia. A mesma mulher que em um plano está falando sobre como quase teve uma overdose ao tentar engolir umas pedras de crack, no plano seguinte está "orando", aos berros, ao "Senhor Jesus".
Há histórias que, de tão bizarras, causaram gargalhadas involuntárias na platéia. Uma mãe, por exemplo, contou como conseguiu achar a veia da filha desidratada, em um hospital, enquanto nenhuma das enfermeiras tinham conseguido. Ela tinha experiência de tanto usar drogas. Outra mãe, com rosto inocente e com o bebê ao lado, conta porque o ex-marido "não está mais vivo". Ele passou AIDS para ela enquanto estava grávida. Ela esperou ter o bebê antes de matá-lo.
Elas falam também de sexo, traição (várias dizem que preferem trair antes mesmo de saber se estão sendo traídas pelo companheiro) e sobre a dor de imaginar que terão que se separar dos bebês quando acabar o prazo de quatro meses. O documentário, que é muito bom, teria sido melhor se tivesse presenciado (ou mesmo terminado) com uma cena destas. A diretora Cláudia Priscilla, presente ao festival, disse que quis fazer o filme depois de ter sido mãe, e que quis ver como a maternidade pode acontecer em uma situação limite como o cárcere.

E foi então que o festival exibiu seu primeiro mico, o "longa-metragem astrológico" As Doze Estrelas. O filme é tão cheio de clichês e absurdo que o público não sabia se estava diante de uma comédia maluca, rindo nervosamente.
A trama, inacreditavelmente ruim, conta a história de Herculano (Leonardo Brício), um astrólogo que é contratado por uma emissora de TV para encontrar as 12 atrizes ideais para uma novela que, claro, se chama "As Doze Estrelas". Cada atriz é de um signo, o que rende cenas melancólicas de mulheres bonitas declamando os mais variados clichês sobre como é ser de Virgem, Touro, Peixes e assim por diante. E não é só isso. Paulo Betti é um "cobrador de almas", o Destino em pessoa, vestido de preto e também declamando clichês, que aparece a Herculano e diz que ele tem uma chance de salvar sua vida com aquela novela.
A série de "candidatas a atriz" conta com lindas mulheres que, sem qualquer motivo, dão ao filme a chance de mostrá-las nuas ou então em uma cena de sexo bizarra entre Herculano e a atriz do signo de Touro, em um labirinto grego dentro da casa da atriz. Touro...Minotauro...entendeu, pobre espectador? Mylla Christie, de gêmeos, é uma mulher tão dupla que até os carteiros que vão lhe entregar telegramas são gêmeos. Há uma cena pateticamente inspirada em "Se eu fosse você", em que Herculano troca de corpo com a bela Carla Regina, o que também serve de desculpa para que ela saia do chuveiro e fique longamente se contemplando no espelho, completamente nua.
Rodado em Paulínia, o filme usa os próprios estúdios da cidade para se passar pela fictícia emissora de TV (que, estranhamente, não tem uma câmera sequer). Assim, quando Herculano entra na emissora, o público de Paulínia via o reflexo, na janela, da estátua da "Menina de Ouro" que ficava em uma rotatória da cidade (e, por obra de Paulo Betti, ou melhor, do Destino, caiu em um vendaval ano passado). O filme tem a direção de Luiz Alberto Pereira que, com toda a equipe e elenco, subiu ao palco antes da exibição do filme.

Um comentário:

Amanda Cotrim disse...

muito bom o espaço que vc criou, principalmente as análises sobre o Festival de Paulínia...

continue...
bjos

Amanda