domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Mensageiro

Segundo o site icasualties.org, 4.698 soldados americanos morreram no Iraque desde 2003 (mais de 100 mil iraquianos foram mortos no mesmo período, segundo várias fontes). Um dos serviços do exército americano é o de informar as famílias das vítimas. O sargento Will Montgomery (Ben Foster) acabou de voltar do Iraque, onde foi ferido, e foi designado para este serviço sob a supervisão do Capitão Tony Stone (Woody Harrelson). Um veterano da primeira guerra do Iraque (em que não trocou nenhum tiro), Stone é um alcoólatra que ensina Montgomery a fazer tudo segundo as regras. "Siga o script", diz ele, "fale somente com o familiar do morto, nunca toque ou abrace ninguém". Montgomery não mostra entusiasmo com seu novo trabalho mas, ao acompanhar Stone em algumas visitas, percebe que comunicar a morte de um ente querido pode ser tão doloroso quanto um combate no campo de batalha.

"O Mensageiro" é mais um produto da Guerra do Iraque, que já se tornou um subgênero do cinema. Os soldados americanos retratados nestes filmes geralmente são brancos, jovens, escutam música pesada e são marcados pelos conflito. Montgomery segue este estilo, mas a interpretação de Ben Foster lhe dá nuances que o tornam extremamente humano. Ele tem um caso com uma namorada de infância, Kelly (Jena Malone), que arrumou outro namorado quando ele partiu para o Iraque. Ela agora está noiva, o que não a impede de transar com Montgomery quando volta da guerra. Will Montgomery parece um jovem frio e distante, mas as visitas às vítimas vão revelando sua empatia por elas e a quebrar as regras impostas por Stone. Um caso especial é o de Olívia (Samantha Morton), que reage de forma inusitada quando Montgomery e Stone a informam da morte do marido: "Deve ser difícil para vocês também", diz ela. Montgomery se interessa por ela e passa a vê-la, discretamente a princípio, depois com mais frequência. Ele está apenas tentando se aproveitar do luto dela ou apenas querendo curar a própria carência? Provavelmente os dois, mas isso não significa que o "relacionamento" entre os dois não tenha substância. Há uma ótima cena, extremamente bem interpretada por Foster e Morton, em que os dois atuam em um único take de mais de oito minutos, passados na cozinha da casa dela. Os dois se aproximam, tentam se beijar, depois se repelem, depois conversam sobre o marido morto e sobre o filho pequeno dela, se aproximam novamente... tudo sem cortes de câmera, sob a direção de Oren Moverman.

Um filme independente, "O Mensageiro" conquistou os críticos e duas indicações ao Oscar, de Roteiro Original (de Alessandro Camon e Oren Moverman) e de Ator Coadjuvante, para Woody Harrelson. Ele está muito bem, mas pessoalmente prefiro a interpretação de Ben Foster e Samantha Morton. Há alguns momentos não muito bem resolvidos, como na sequência em que Foster e Harrelson aparecem na festa de casamento de Kelly. E o Capitão Stone tem algumas opiniões contrárias à guerra que não soam muito verdadeiras, partindo de um oficial. Mas é um bom filme, centrado nos personagens e nas interpretações, mostrando que não é possível simplesmente "brincar" de guerra. Pessoas vão morrer de forma violenta, deixando para trás pais, mães, esposas e filhos.


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