segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Distrito 9

Eles chegaram em 1982. Sua gigantesca espaçonave não parou sobre Nova York, ou Paris, ou Londres, mas sobre Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul. Após três meses sem dar sinal de vida, os humanos resolveram invadir e lá dentro encontraram os "Camarões", extraterrestres parecidos com crustáceos, famintos e doentes. Havia um milhão deles, e eles foram trazidos para a cidade e fechados em uma região chamada "Distrito 9". Lá eles foram separados dos humanos e permaneceram desde então, vivendo em condições sub-humanas, ou melhor, sub-extraterrenas, em uma gigantesca favela onde reina o contrabando de armas, o mercado paralelo de armas, drogas e prostituição. Vinte e oito anos depois, a empresa privada MNU (Multinational United) foi contratada para remover pacificamente os 1,8 milhões de extraterrestres de Joanesburgo para uma área fora da cidade. Eles não são bem vindos aqui.

"Distrito 9" é um dos filmes mais originais de ficção científica dos últimos anos. Ele tem todos os ingredientes do gênero, como espaçonaves vindas dos confins do Universo, extraterrestres, armas com alta tecnologia e efeitos especiais. Ao mesmo tempo, é uma alegoria bem bolada dos problemas que afligem o nosso planeta. Este é um filme de monstros em que os vilões, curiosamente, não vêm de fora. Os monstros somos nós. "Distrito 9" mostra como os seres humanos podem ser preconceituosos e violentos com o que é diferente. Os milhares de extraterrestres são mostrados em situações degradantes na grande favela que virou seu "campo de refugiados". Vivem procurando comida no lixo, inclusive "crianças pequenas", e sentimos repugnância pelo seu modo de vida. Feito como se fosse uma pseudo-reportagem, o filme lembra um pouco o estilo empregado em "Cloverfield", ano passado, que foi feito todo em "primeira pessoa", simulando um visual amador. "Distrito 9" é menos radical, mas o diretor Neill Blomcamp usa muito de câmeras operadas sem tripé e do ponto de vista de um repórter cinematográfico que foi chamado para acompanhar o "despejo" dos extraterrestres.

O resultado é um filme muito interessante, que ainda conta com entrevistas de "especialistas" como psicólogos, políticos e jornalistas. A companhia MNU é claramente baseada nas empresas militares privadas que os Estados Unidos tem usado em suas campanhas no Iraque. Composta por mercenários, eles são assassinos comandados pelo Coronel Koobus (David James). O personagem principal de Distrito 9 é Wicus van der Merwe (Sharlito Copley), genro do dono da MNU e o encarregado pela evacuação do Distrito para fora da cidade. Wicus é um burocrata da pior espécie, político e sorridente para as câmeras mas claramente um cafajeste. Ele toma uma dose do próprio remédio quando, infectado por um líquido estranho, começa a se tornar um extraterrestre. Ele é levado para o quartel general da MNU, que vê sua metamorfose com interesse, visto que as armas alienígenas só respondem ao DNA dos extraterrestres. Novamente, a situação é uma alegoria da ganância das empresas militares multinacionais, que fariam de tudo para lucrar com uma situação. A parte final é um pouco decepcionante, composta por perseguições impossíveis, explosões e tiroteios. "Distrito 9" foi produzido por Peter Jackson, de O Senhor dos Anéis, que também produziu todos os efeitos especiais. O título é uma menção ao "Distrito 6", região que teve muitos problemas, na Cidade do Cabo, durante os anos do Aparthaid.

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